Biotecnologia elimina até 98% dos mosquitos da Dengue

Projeto piloto de empresa britânica libera mosquitos que não picam e interferem na reprodução da espécie. Liberação de mosquitos transgênicos está prevista para os próximos dias, em Indaiatuba (SP)

Com um aumento de 599,5% no número de casos de Dengue em relação ao ano passado, o Ministério da Saúde decidiu iniciar a campanha de combate à doença mais cedo, este ano. São R$ 12 milhões dedicados à comunicação e R$ 1,8 bilhão em programas de vigilância em saúde. Mas o governo não consegue reduzir os índices sem a ajuda da população, que tem que se conscientizar e eliminar a água parada para impedir a reprodução dos mosquitos.

Mas a tecnologia já encontrou outra forma de eliminar os mosquitos transmissores. Uma empresa britânica, desenvolvida na Universidade de Oxford, chamada Oxitec, produz mosquitos transgênicos, chamados Aedes do Bem™, que não picam e interferem na reprodução do Aedes aegypti. O primeiro teste, realizado na cidade baiana de Jacobina, em 2013, resultou em uma redução de 94% na população de mosquitos, durante o experimento.

Já no programa de Piracicaba (SP), que começou em um único bairro de 5 mil habitantes em 2015, se expandiu em 2016 para incluir 11 bairros adicionais na região central da cidade, que abrigam outros 60 mil cidadãos de Piracicaba. Em toda a área tratada, a população de mosquitos selvagens foi reduzida em até 98% a cada ano, com uma redução média de 92% ao longo de quatro anos. Nos bairros onde o Aedes do Bem™ foi liberado, a cidade relatou uma redução significativa nos casos da doença quando comparados ao restante do município: o Serviço de Vigilância Epidemiológica da cidade registrou apenas 12 casos de dengue no período de um ano na temporada 2015-2016, contra 133 no ano anterior.

No ano passado, a Oxitec iniciou a liberação dos mosquitos geneticamente modificados da linhagem OX5034 em quatro áreas do município de Indaiatuba, que fica na Região Metropolitana de Campinas, interior de São Paulo. A soltura de insetos da nova linhagem do Aedes do Bem™ em Indaiatuba é parte de uma LPMA (Liberação Planejada no Meio Ambiente) aprovada pela Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio) – órgão responsável pela regulamentação de OGMs (Organismos Geneticamente Modificados) no Brasil – em agosto de 2017. O uso da tecnologia está de acordo com normas para proteção da saúde humana, da saúde animal e do meio ambiente.

Embora semelhante ao mosquito da primeira geração, a partir do trabalho extensivo em testes em ambientes fechados, essa segunda geração deve suprimir o mosquito transmissor da dengue com menos liberações. Além disso, a nova linhagem oferece vantagens operacionais significativas e economia de custos, o que deverá simplificar o processo de produção. A primeira fase do projeto resultou em até 96% de supressão de mosquitos selvagens Aedes aegypti em comunidades tratadas em comparação com áreas não tratadas. Sendo assim, o município paulista assinou um um novo acordo de colaboração com a Oxitec para continuar com o desenvolvimento do projeto de liberação da 2ª Geração de mosquitos Aedes do Bem™. A Oxitec do Brasil e a Prefeitura de Indaiatuba estão iniciando agora a segunda fase desse projeto para demonstrar a efetividade e avaliar novos métodos de liberação do mesmo Aedes do Bem™.

Desta vez, a liberação dos mosquitos machos, que não picam, será feita por meio da instalação de pequenas caixas de papelão simples contendo ovos e água que serão instaladas nos bairros. Desta caixa, nascerão apenas os mosquitos machos Aedes do Bem™. A instalação dessas caixas começará em meados de outubro. Para que o teste funcione de acordo com o planejado, é importante que os moradores não mexam nas caixas – assim o mosquito poderá emergir e ajudar no combate.

Antes de iniciar a segunda fase deste projeto, a equipe está fazendo o monitoramento da abundância da população de Aedes aegypti em 12 bairros da cidade, que possivelmente hospedarão as liberações dos mosquitos da Oxitec. O objetivo é implementar um sistema de vigilância preciso para avaliar a infestação dos mosquitos selvagens e o desempenho das liberações do Aedes do bem™. O monitoramento é realizado semanalmente, e para isso será utilizado um recipiente cheio de água conhecido como ovitrampa, que atraem mosquitos fêmeas para realizarem a oviposição; esses ovos serão levados para o laboratório para contagem, posteriormente, usados para avaliar a população de mosquitos.

A secretária de Saúde de Indaiatuba, Graziela Garcia, destaca que os moradores devem continuar fazendo sua parte para evitar a proliferação do mosquito. “Após o sucesso do primeiro piloto com o Aedes do Bem™ da Oxitec, estamos ansiosos para explorar os benefícios que a tecnologia poderá oferecer à nossa cidade e a outras comunidades afetadas pelo mosquito. O trabalho de monitoramento e, posteriormente, os estudos com a caixa de liberação de mosquitos, serão conduzidos pela empresa em áreas específicas. Desta forma, é importante lembrar que os agentes de controle da dengue continuarão desenvolvendo as atividades para evitar a multiplicação do Aedes, especialmente neste período mais quente e chuvoso, que é quando ele se reproduz. Continuamos contando com a ajuda da população de Indaiatuba para isso”, diz Graziela.

A 2ª geração de Aedes do bem™ da Oxitec, contempla a liberação de mosquitos machos seguros e que não picam. Estes machos irão procurar por fêmeas selvagens em áreas de difícil acesso aos métodos de controle convencionais. Após o acasalamento, os descendentes fêmeas morrem, enquanto a prole macho sobrevive e continua a acasalar e reduzir ainda mais a população de mosquitos. Mais fracos que os outros mosquitos, a cada geração sucessiva, o número de machos da Oxitec diminui, até que finalmente desapareçam do meio ambiente. Após o término das liberações, a Oxitec continuará monitorando o Aedes do Bem™ até que não seja encontrada mais nenhuma evidência no ambiente.

“Embora a Oxitec esteja financiando integralmente este projeto, essa é uma verdadeira parceria. Essa colaboração é um excelente modelo de liderança inovadora necessária para avaliar novas ferramentas para combater o mosquito transmissor da dengue. Não podíamos pedir colaboradores mais engajados em um momento tão importante”, afirmou Garcia.

O projeto-piloto foi revisado e aprovado pela CTNBio – a autoridade brasileira reguladora de Biossegurança – que concluiu que o Aedes do Bem™ é seguro e não representa riscos para humanos, animais ou o meio ambiente. A aplicação da tecnologia não impede o uso de ferramentas convencionais de controle vetorial já implantadas pela prefeitura, que continuará a campanha para eliminar os pontos de água parada onde o Aedes aegypti se reproduz. O objetivo é que o novo mosquito Aedes do Bem™ seja avaliado como uma estratégia adicional no combate ao mosquito transmissor da Dengue, Zika, Febre Amarela e Chikungunya.

A técnica requer uma liberação contínua nas áreas tratadas. Os mosquitos transgênicos desaparecem do ambiente algumas semanas após a interrupção das liberações. “Funciona como um inseticida biológico: enquanto você aplica, vê o efeito. Se parar de usar, os mosquitos voltam”, afirma a diretora geral da Oxitec Brasil, Natalia Verza Ferreira, PhD em Genética e Biologia Molecular. Além disso, o efeito de supressão populacional não é imediato: é preciso liberar continuamente por aproximadamente um ano para que se possa começar a controlar a população.

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