Jovens refugiados rohingya lutam para manter vivo o sonho por educação

Fonte: ONU Brasil

Em Cox’s Bazar, assentamento para refugiados mais populoso do mundo localizado em Bangladesh, crianças e jovens da etnia rohingya desafiam obstáculos para estudar.

Segundo a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), entre as 7,1 milhões de crianças refugiadas em idade escolar, 3,7 milhões – mais da metade – não vão à escola.

Shehana, uma adolescente rohingya de 16 anos cuja família fugiu da violência em Mianmar há dois anos, se considera com sorte. Ela estuda em um dos poucos centros comunitários que oferecem oportunidades de aprendizado para crianças acima de 15 anos, administrado por um parceiro local do ACNUR.

Em Cox’s Bazar, assentamento para refugiados mais populoso do mundo localizado em Bangladesh, crianças e jovens da etnia Rohingya desafiam obstáculos para estudar.

Shehana, uma adolescente de 16 anos cuja família fugiu da violência em Mianmar e chegou ao assentamento de Kutupalong há dois anos, se considera com sorte. Ela estuda em um dos poucos centros comunitários que oferecem oportunidades de aprendizado para crianças acima de 15 anos, administrado por um parceiro local da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).

O sonho de estudar

Elas não têm mesas ou cadeiras. Mas em uma sala feita de bambu e decorada com pôsteres e pinturas, 30 jovens mulheres rohingya com 15 anos ou mais estão sentadas no chão, inclinadas para a frente e escrevendo intensamente em seus cadernos, enquanto uma fórmula matemática é colocada na lousa.

Estas são algumas das sortudas. Poucas meninas conseguem continuar seus estudos quando chegam à adolescência. Em todo caso, há apenas um pequeno número de centros de aprendizagem temporário nos amplos assentamentos de refugiados no sudeste de Bangladesh que oferecem oportunidades de aprendizado para crianças acima de 15 anos.

Segundo o ACNUR, Agência da ONU para Refugiados, cerca de 55% dos refugiados Rohingya nos assentamentos têm menos de 18 anos. Todos são impedidos de seguir o currículo nacional de Bangladesh.

Shehana, uma jovem brilhante, mas tímida, de 16 anos, sabe que está melhor do que muitos, mas ainda deseja ser admitida na educação formal. Ela é uma das meninas que estuda na cabana de bambu, conhecida como ‘Diamond Adolescent Club’, criada pelo Centro de Desenvolvimento Comunitário (CODEC), parceiro do ACNUR há quase dois anos em Cox’s Bazar.

“Lá em Mianmar, eu estava na sexta série. Eu queria ser professora e poder ir para a faculdade. Eu amo ensinar e estou feliz por estar aqui”, declarou Shehana.

“Aprendemos coisas novas quase todos os dias. Acho que tenho sorte, mas tento dizer aos outros por que a educação é importante e convencê-los a deixar as meninas estudarem”, comentou a jovem. Segundo ela, a educação “pode ajudar com melhores oportunidades no futuro. Alguns de nossos parentes me ouviram e agora mandam suas filhas para a escola”, acrescentou.

Educação como prioridade

Shehana vem de uma família onde a educação sempre foi muito valorizada. Seu irmão, Mohammed Sharif, 17 anos, estuda à tarde com outros meninos no mesmo local, enquanto uma de suas irmãs mais velhas, Jannat Ara, 21 anos, ensina crianças de quatro a cinco anos em um centro de aprendizagem domiciliar, levando consigo sua própria filha de cinco anos.

Logo fica claro de onde vem essa paixão pela educação. O pai de Shehana, Nur Alam, 43 anos, é ex-professor de uma escola de cerca de 450 alunos em Maungdaw, no estado de Rakhine, em Mianmar.

Quando a família fugiu da violência em Mianmar há dois anos e chegou ao assentamento de refugiados de Kutupalong, Nur Alam se ofereceu para ensinar jovens em uma mesquita montada no assentamento. Ele mostra uma foto de seus ex-alunos – um grupo de meninos e meninas – em sua antiga escola.

“Sinto vontade de chorar quando vejo isso”, comentou Nur. “Sinto muita falta dos meus alunos. Muitos deles que concluíram o sexto ano estão aqui no acampamento”, conta.

Estes jovens que um dia já foram alunos de Nur em Mianmar trabalham hoje nos assentamentos para refugiados em Bangladesh como voluntários, atuando em diferentes organizações. “Quando me vêem, me cumprimentam. Eles me dizem que, porque ouviram e aprenderam, puderam obter essas oportunidades e agora estão melhores”, declarou.

Refugiados Rohingya sofrem dificuldades para acessar a educação

Os centros de aprendizado temporário nos assentamentos de refugiados, que atendem jovens de 6 a 14 anos, operam três turnos por dia e oferecem aos alunos apenas algumas horas de aulas de birmanês, inglês, matemática e habilidades para a vida. Mas eles estão muito longe de serem escolas adequadas.

Existem planos aprovados pelo governo de Bangladesh para introduzir programas de aprendizagem informal em todos os locais de assentamento para refugiados a partir de agosto de 2019, com o objetivo de oferecer aos refugiados um padrão de aprendizagem comparável ao que outras crianças alcançariam por meio de um currículo formal.

Apesar disso, ainda não existe um sistema de qualificações reconhecidas para refugiados. Também não há educação adequada para os alunos com mais de 14 anos, mesmo tendo sua escolaridade encurtada por precisarem fugir da violência.

A escassez de professores qualificados é outro problema, apesar dos esforços conjuntos do ACNUR, agências irmãs e parceiros para aumentar a formação de professores.

Como resultado deste cenário desastroso, no qual centenas de milhares de crianças rohingya em Bangladesh têm sido impedidas de seguir o currículo nacional do país, o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 4, “Garantir educação de qualidade inclusiva e equitativa e promover oportunidades de aprendizagem ao longo da vida para todos”, tem sido deixado para trás.

“O sistema educacional dos assentamentos não está realmente focado em uma educação adequada, mas mais em manter as crianças ocupadas e seguras”, lamentou o pai de Shehana, Nur Alam.

Relatório anual de educação do ACNUR

Esta história é apresentada no relatório educacional de 2019 do ACNUR ‘Stepping Up: Educação para Refugiados em Crise’. O documento comprova que, à medida que as crianças refugiadas ficam mais velhas, as barreiras que as impedem de acessar a educação se tornam mais difíceis de superar: apenas 63% das crianças refugiadas frequentam a escola primária, um número baixo em comparação com os 91% das outras crianças do mundo.

No relatório consta ainda que, globalmente, 84% dos adolescentes recebem educação secundária, enquanto que apenas 24% dos refugiados têm essa oportunidade. Dos 7,1 milhões de crianças refugiadas em idade escolar, 3,7 milhões – mais da metade – não vão à escola.

“Stepping Up: Educação para Refugiados em Crise” é o quarto relatório de educação produzido anualmente pelo ACNUR. A edição deste ano, lançada em 4 de setembro, inclui um prefácio de Filippo Grandi, Alto Comissário da ONU para Refugiados, bem como observações finais de Gordon Brown, Enviado Especial da ONU para a Educação Global, e pode ser acessado aqui (em inglês).

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